terça-feira, 3 de outubro de 2017

MANIFESTO ANTI-MANIFESTO



 Basta, Eu, basta. Um Eu incapaz de se ampliar e de moldar o palavreado é um Eu que nunca o foi. É um Eu que balança entre a corja dos que sabem que não sabem e a elite dos intelectualóides que fingem saber. Um Eu que não o foi e nunca o será.

 Pior do que me pedirem para fazer algo de que não gosto, é tornarem o que gosto numa obrigação. É sempre lúbrico quando é por iniciativa própria. No entanto, quando é a pedido de outros, a história do "estimular o Eu" já não motiva. Podia somente dispensar por aqui umas frases filosóficas e optar pela abordagem de Senhora Literata mas o suficiente não me chega.

Indecisa? Só quando tenho de tomar decisões.
Como é que querem que eu escreva sobre o que sinto se o que sinto está constantemente a eclipsar-se?O que sinto é tudo e é nada. É o ir e ficar, o querer e não querer, o amar e odiar. Se escolho um, sinto falta do outro. E aliada à minha inabilidade de ser singular, vem o impingimento de restrições que apenas agravam a dificuldade que tenho em expressar-me.
Não gosto da agressividade óbvia na escrita, gosto da sátira mascarada.
Não gosto de ter de lançar fogo de artificio a megalomaníacos.
Não gosto do peso da expetativa de uma póstuma homenagem a (ditos) Mestres da Literatura vinda de apenas dezassete anos de existência. 
Não gosto de malgastar papel nem tempo em tentativas falhadas de imitar quem não sou e aquilo em que não acredito.

Que morra o estar entre o querer fazer bem para impressionar e o querer virar do avesso para devolver o aborrecimento. 
Que morra a mediania. 
Que morram as exclamações exageradas.
Que morra a inquietação de querer contrariar apenas o que não pode ser contrariado. Que morra a pressão por mim criada. 

Pim.



 por Inês Machado, 12ºB


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