quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poemário

O poema escolhido nesta semana é "Ave de Esperança", de Miguel Torga, um belíssimo poema para romper com as sombras e o abatimento, trazido pela Marta.


Passo a noite a sonhar o amanhecer.
Sou a ave da esperança.
Pássaro triste que na luz do sol
Aquece as alegrias do futuro,
O tempo que há-de vir sem este muro
De silêncio e negrura
A cercá-lo de medo e de espessura
Maciça e tumular;
O tempo que há-de vir - esse desejo
Com asas, primavera e liberdade;
Tempo que ninguém há-de
Corromper
Com palavras de amor, que são a morte
Antes de se morrer. 






E para ouvirem uma obra, de outro domínio, o musical, criado a partir de um outro fabuloso poema do autor, aqui vos deixo:




o poema:

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do Tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

ou então, para dar o mote à próxima palavra:





A próxima palavra: LUZ

3 comentários:

Cláudia Amorim disse...

Obrigada Miguel Torga
por tudo e pelo nada;
és tantas vezes, sem o saberes, minha companhia de paisagem

Cláudia Amorim disse...

que bom ver o blog mais fresco (:

Fátima Inácio Gomes disse...

Ainda bem que gostaste :))