sábado, 5 de dezembro de 2009

Criança, era outro...




Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi?



De repente, ao ler este poema, senti: isto é comigo! Será que a criança que eu fui está distante? Não me confundo com ela? Já não sou? Senti um arrepio e reli o poema mais devagar, deixei-o tomar conta de mim como se uma sineta me acordasse...
Dezassete anos o que representam? Toda uma vida, a minha vida... Tenho agora uma lei, muitas leis, muitas regras que todos fazem questão de me lembrar. O meu silêncio, o meu espaço, será que o conquistei? Cresci? Não sei. Crescer é tarefa inacabada. Criança era outro ou não. E eu quem sou?
Este poema traz-me um pouco do sentimento vivido por mim enquanto cresço, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Posso olhar para trás e ver que os tempos de criança estão (quase) passados. Mas será isso bom? Será bom podermos dizer: “Já não sou nenhuma criança!”? Acho que não. Todos nós já fomos crianças, e todos sabemos o quão bom foi.
Aqueles tempos em que não havia preocupações, não pensávamos na vida, no que ela significa, simplesmente vivíamos a nossa infância com um sorriso na cara, sem pensar em nenhumas dificuldades. Mas crescemos, e posso dizer que sinto falta daqueles tempos, sinto falta de não ter problemas. Quando era mais novo, os meus pais sempre me diziam: “A melhor parte da tua vida vai ser esta, lembra-te bem…”, mas eu nunca percebi bem. Melhor parte da minha vida? Isto? Mas agora começo a perceber um pouco - é quando somos crianças que conseguimos tirar prazer do melhor da vida, conseguimos ficar felizes com as mais pequenas coisas, os mais simples gestos. Quando crescemos vamos perdendo essa capacidade de aproveitar cada momento, vamos ganhando mais consciência, vamos pensando cada vez mais no que vem “a seguir”. Isso não nos deixa aproveitar cada momento e deixamos de dar valor a pequenas coisas, vamos sempre querer mais e mais, até chegarmos a um ponto da nossa vida que nos apercebemos que, não importa quanto tivermos, vai sempre haver mais a conseguir, mais a desejar. É essa tal capacidade de aproveitar cada momento, que as crianças têm, que todos nós já tivemos, que vamos perder ao crescer.
Mas é claro que, aos meus 17 anos, ainda tenho muito de criança em mim, todos nós temos. Mas foi ao ler este poema que eu percebi que, embora essa infância não esteja assim tão longe, eu cresci.
E à medida que eu vou crescendo, vão crescendo regras à minha volta, “leis” como é dito no poema, e aí apercebo-me que já não sou nenhuma criança. Vou crescendo e a criança que em mim uma vez vivia vai-se ofuscando com as dificuldades que passo no dia-a-dia. Uma criança que existiu noutro tempo, quase que noutra pessoa (de tão estranha que já me parece). Todos gostamos de sentir que ainda temos uma criança dentro de nós. Temos pois, mas está tão distante e embaciada pela razão que não tem nada a ver com a criança que éramos, inocentes sem querer, sem saber. Pois, sem saber, aí está a tal inconsciência necessária para ser feliz…



José António Varzim

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Muito, muito bem! belíssima análise, Zé. Estás lá :)