terça-feira, 29 de dezembro de 2009

da Luz e da Sombra


Em "O Amor nos Tempos de Cólera", do Gabriel Garcia Márquez, a mãe do grande amoroso, Florentino Ariza, recomenda-lhe: "Aproveita agora que és novo para sofreres o mais que puderes, porque estas coisas [as do amor] não duram toda a vida".

E ele comprazia-se com o seu sofrimento amoroso, porque a sua maior glória era amar.

Não serei tão severa conselheira quanto a mãe de Florentino, mas que o Amor, seja o feliz ou o infeliz, sentido, é o maior potenciador criativo que conheço, ah isso é...

Aqui vos deixo dois poemas do "nosso" Edd, que já não faz trabalhos para a professora, mas que não se inibe de partilhar o que de belo cria comigo, connosco.



Fui mas fiquei, agora permanecerei


Ela estava longe, distante como uma luz no universo...
O caminho encurtava-se, já lhe sentia o peito a encher-se e esvaziar-se conforme o sopro de vida.
Via os lábios, de um cor de rosa tão perfeito, que faria chorar qualquer cor.
Aproximava-se cada vez mais.
Ela não se movia, era eu que corria.
Estava quase a chegar, quando flutuei no seu aroma.
Era como o carvalho humedecido pelo orvalho da manhã, fazia-me sentir livre.
Já sentia o calor emanado da sua pele.
O meu coração palpitava com uma força tal, que, se não estivesse anestesiado
talvez pensasse que estava a tentar fugir.
Ela abriu os braços.
Fiquei deliciado, sorri e corri ainda mais.
Era uma sombra, nas sombras.
Ia tocar-lhe, mas nada aconteceu, ultrapassei-a era como se ela não estivesse lá.
Ela virou-se enquanto chorava e gritava "NÃO, PORQUÊ? PORQUÊ QUE TE FOSTE SEM MIM?"
Olhava para um corpo inerte, imóvel, rijo.
Com uma cara fria e pálida, branca como cal.
Os seus olhos ficavam baços, com a cor castanha avelã a esgotar-se a cada segundo que passava.
Eram-me tão familiares.
Foi aí que o deixei de sentir. O coração que fugia. Libertou-se com a ultima batida.
Ali, estendido aos pés daquela que jamais poderia tocar outra vez, estava eu...

Outubro 2009



Lua Nova


No mais fundo dos precipícios, onde a penumbra me cobria
ninguém me olhou, com ou sem olhos de ver, era eu nada mais nada menos que uma fonte seca.
Onde nem água nem fogo fluíam, elementos que outrora secaram.
Mesmo no mais profundo dos silêncios, onde até a morte que rastejava lentamente
tinha medo de se fazer ouvir
eu ouvia quem me chamasse, lá no topo, eu tentava focar
mas nada via, rostos marcados a negro que passavam fugazmente como ilusões.

De um momento para o outro, um calor, uma névoa levanta-se e eu não sentia o meu corpo.

Tudo branco.

Que claridade é esta? Que fogo me consome e que água me acalma?

Nada via, fechava os olhos para tentar entender, mas nisso vinha a escuridão.
Era uma palavra que não queria e não voltaria a sentir, implorei que conseguisse para sempre ficar
sem pestanejar, pois um milésimo de segundo que fosse sem aquele meu novo mundo era uma eternidade.
Neste novo imenso por explorar, só te via e ouvia, enquanto me olhavas e sussurravas com
uma delicadeza tal que me senti perfeito.

E os segundos pareceram décadas, era imortal!

Até que comum a tudo, o mundo desvaneceu-se, desapareceu e eu rastejava, praguejava e esquartejava as paredes do precipício, tentando escalar sem nada subir.
A mesma lua coberta de preto voltou a assombrar-me, e enquanto me gozava eu deixei-me ficar. Espero pelo calor e névoa da lua nova,
e pela música que encanta e aquece as minhas veias.
Não sei nada de nada, não sei o que fui ou o que deixei de ser.


Dezembro 2009




Eduardo Silva

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mensagem Natalícia :D



Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.


Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece

Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra

Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa




Para
não destoar, trago-vos um Pai Natal especial, em pessoa ;-)

Que não vos arrefeçam os pés e, especialmente, que vivam a quadra, e todos os dias que se lhe seguem, contentes, não por que "é dia de o ficar", mas porque o coração vo-lo pede.



Fátima





sábado, 5 de dezembro de 2009

SEI QUE NUNCA TEREI O QUE PROCURO



Sei que nunca terei o que procuro
E que nem sei buscar o que desejo,
Mas busco, insciente, no silêncio escuro
E pasmo do que sei que não almejo.

(Fernando Pessoa)



Este poema escolheu-me não só pela sua simplicidade, mas também por me caracterizar na fase da vida onde me encontro, cansada, sobretudo, por sentimentos de expectativa e incerteza.
Neste poema, Fernando Pessoa procura o que deseja (???), mas no fundo não se sente concretizado, o que o leva a procurar ou a querer sempre mais e mais (…). No fundo, Pessoa nem sabe o que deseja, mas tem uma ambição de querer buscar sempre mais. Ao não sentir-se concretizado, o poeta vive num sentimento de ambição, de angústia e de cansaço.

O poeta vive um “ tormento de espírito”.

Tudo isto, para dizer que, no fundo, também tenho a sensação de um sentimento de insatisfação, que me leva a uma necessidade de querer sempre mais, não me sentindo ainda concretizada e, no fundo, sem saber o que realmente quero.
Assim, termino com uma expressão minha, “ não desistas de procurar - a sensação de esperar alimenta-nos a esperança, e sem ela a vida não tem sentido”.



Sara Silva, 12ºC

Tenho pena e não respondo




Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.


Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?


Fernando Pessoa


Os poemas de Fernando Pessoa (Ortónimo) são complexos e tem a sua própria natureza racional.
O poema em questão retrata a incapacidade de amar do autor, o que não é muito habitual da Obra Pessoana (???), mas um estado de espírito que nos leva ao quotidiano do poeta (???).
Vemos que, neste poema, ele toma as exigências da sua "amante" por coisas que lhe são impostas: "Tenho pena e não respondo", é de certa maneira uma reacção passiva-agressiva às exigências normais do amor de uma mulher, quando Pessoa sente que ela lhe pede algo e ele sente não conseguir satisfazer a sua amada.
Pessoa, neste poema, entra num mundo “à parte”, de não querer ser conhecido para não se encontrar consigo (?). Vejo-me como o autor, porque, se por vezes, não deixar demonstrar o meu lado tranquilo e desafogado irei absorver tudo o que há de mau e não aproveito o que de melhor a vida me oferece.
Não conseguindo multiplicar-me como este senhor, consigo atingir os mesmos objectivos deste.


Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Fernando Pessoa


Eu sou como sou,
Cada um é como é.
No meu mundo estou,
Cada um anda a pé!


Pedro Maciel

do Sol e da Chuva




Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.




A minha escolha recaiu sobre este poema, pois eu também sempre tive a mesma opinião, um dia de chuva e tão belo como um dia de sol.
Normalmente afirmamos que um dia de sol é mais benéfico para cada um de nós, para as nossas actividades no dia-a-dia, bem como para a prática de desporto ou outras formas de lazer. Talvez seja o mais correcto, pensarmos isso, ou talvez não, porque se pensarmos bem, um dia chuva também tem a sua beleza, não da mesma maneira que um dia sol pode ter, mas estes dias de chuva também tem um lado positivo, porque permitem um maior convívio entre amigos e familiares, para além de nos proporcionarem por vezes imagens fotográficas espectaculares.
Se me pedissem para escolher entre um dia de chuva e um dia de sol, provavelmente não saberia qual escolher, talvez seja um bocado estranha esta minha dúvida, mas para mim estar com os amigos e com a família é o mais importante e, nesse caso, o estado do dia não é o mais importante.



Nome: Pedro Dias
Nº: 19
Turma: 12ºC

Esta Espécie de Loucura






Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há.



Fernando Pessoa



Este poema escolheu-me pois leva-me a pensar na loucura do Homem, na loucura da mente de um jovem, de uma pessoa como eu, que não possui limites quando sonha. Mas a mente, pode também entrar em conflito que reflecte em sentimentos como medo, tristeza, depressão e até loucura, como Pessoa diz no Poema :“confusão de pensamento,”.
A ‘loucura’ é o sentimento mais profundo neste poema, e poucas vezes é entendido por mim e por outras pessoas, certamente.
Bem, muitas vezes entramos em conflitos com nossos desejos ou com o rumo da nossa vida. São aqueles momentos em que devemos parar, reflectir e analisar nossos actos, para então seguirmos em frente. Devemos ser nossos próprios terapeutas e tocar no que nos vai no interior da nossa alma, abrir o coração e seguir o nosso caminho sem temer, sem olhar para trás, para entender o que há dentro de nós.
Este poema parece-me ser inacabado, pois Pessoa reflecte sobre si, mas não conclui o que se passa com ele, não é infeliz porque, segundo ele, uma ponta de felicidade sempre haverá (???).
Um pouco como me acontece a mim às vezes, que dou por mim sem rumo, e sentindo-me um bocado “louco” à maneira de Pessoa, mas nunca inteiramente infeliz, pois felicidade há sempre, e lá sempre consigo encontrar um rumo que se ajuste a mim.
Também, às vezes, sei que tenho algo dentro de mim que não sei explicar ao certo o que é, mas certamente sei que nunca nenhuma infelicidade me vai conseguir fazer infeliz de todo, pois, ao contrário de Pessoa, “esta espécie de loucura” que vive em mim faz de mim um pessoa ainda mais feliz.



Luis Francisco Neves Pereira, Nº 15, 12ºC

Criança, era outro...




Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi?



De repente, ao ler este poema, senti: isto é comigo! Será que a criança que eu fui está distante? Não me confundo com ela? Já não sou? Senti um arrepio e reli o poema mais devagar, deixei-o tomar conta de mim como se uma sineta me acordasse...
Dezassete anos o que representam? Toda uma vida, a minha vida... Tenho agora uma lei, muitas leis, muitas regras que todos fazem questão de me lembrar. O meu silêncio, o meu espaço, será que o conquistei? Cresci? Não sei. Crescer é tarefa inacabada. Criança era outro ou não. E eu quem sou?
Este poema traz-me um pouco do sentimento vivido por mim enquanto cresço, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Posso olhar para trás e ver que os tempos de criança estão (quase) passados. Mas será isso bom? Será bom podermos dizer: “Já não sou nenhuma criança!”? Acho que não. Todos nós já fomos crianças, e todos sabemos o quão bom foi.
Aqueles tempos em que não havia preocupações, não pensávamos na vida, no que ela significa, simplesmente vivíamos a nossa infância com um sorriso na cara, sem pensar em nenhumas dificuldades. Mas crescemos, e posso dizer que sinto falta daqueles tempos, sinto falta de não ter problemas. Quando era mais novo, os meus pais sempre me diziam: “A melhor parte da tua vida vai ser esta, lembra-te bem…”, mas eu nunca percebi bem. Melhor parte da minha vida? Isto? Mas agora começo a perceber um pouco - é quando somos crianças que conseguimos tirar prazer do melhor da vida, conseguimos ficar felizes com as mais pequenas coisas, os mais simples gestos. Quando crescemos vamos perdendo essa capacidade de aproveitar cada momento, vamos ganhando mais consciência, vamos pensando cada vez mais no que vem “a seguir”. Isso não nos deixa aproveitar cada momento e deixamos de dar valor a pequenas coisas, vamos sempre querer mais e mais, até chegarmos a um ponto da nossa vida que nos apercebemos que, não importa quanto tivermos, vai sempre haver mais a conseguir, mais a desejar. É essa tal capacidade de aproveitar cada momento, que as crianças têm, que todos nós já tivemos, que vamos perder ao crescer.
Mas é claro que, aos meus 17 anos, ainda tenho muito de criança em mim, todos nós temos. Mas foi ao ler este poema que eu percebi que, embora essa infância não esteja assim tão longe, eu cresci.
E à medida que eu vou crescendo, vão crescendo regras à minha volta, “leis” como é dito no poema, e aí apercebo-me que já não sou nenhuma criança. Vou crescendo e a criança que em mim uma vez vivia vai-se ofuscando com as dificuldades que passo no dia-a-dia. Uma criança que existiu noutro tempo, quase que noutra pessoa (de tão estranha que já me parece). Todos gostamos de sentir que ainda temos uma criança dentro de nós. Temos pois, mas está tão distante e embaciada pela razão que não tem nada a ver com a criança que éramos, inocentes sem querer, sem saber. Pois, sem saber, aí está a tal inconsciência necessária para ser feliz…



José António Varzim

Passei toda a noite, sem dormir...




Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro



Este poema escolheu-me porque, de alguma forma, se identifica comigo. Tal como Alberto Caeiro, também eu passo noites a pensar em alguém especial, vejo essa pessoa com as recordações que tenho, sinto a falta de poder estar com essa pessoa e sinto falta de lhe poder tocar e abraçar.
Claro que ao pensar é quase como viver numa outra realidade, mas por um lado ate é bom viver nessa realidade, faz-me pensar de forma concentrada nessa pessoa e é uma maneira de nunca a esquecer ou esquecer as coisas que ela fez por mim, bem como não esquecer a forma carinhosa como sempre me tratou. Mas, de tanto pensar, sinto a necessidade de estar com ela, e quando estou com ela penso como Caeiro, que talvez tivesse sido melhor não estar com ela “Para não ter que a deixar depois”.
Durante a vida vamos sempre encontrar pessoas que nos irão marcar, de forma boa ou de forma má, outras irão surpreender-nos, mas há sempre aquela que nos marca mais, aquela que mais nos ajuda e de quem mais sentimos necessidade de a olhar ou apenas de pensar, porque embora não possamos estar juntos todos os dias, durante as 24 horas do dia, essa pessoa está sempre connosco, quer na mente quer no coração.



João Costa

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada






Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...


Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...


Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...


Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...


Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...



Alberto Caeiro



Este poema escolheu-me pois fala sobre nós sermos alguém na vida, não nos limitarmos a vivê-la e a passar o tempo sem ser da maneira como nós realmente queríamos ou desejávamos.
Este poema fala-me sobre alargar horizontes, não nos deixarmos ficar a olhar para trás e pensar “antigamente é que eram os bons tempos”; fala-me sobre ter visão para um futuro que eu, ou qualquer outra pessoa, queira, mas, principalmente, um futuro desejado, ambicionado e sonhado. O dinheiro não faz parte como algo vital; podemos amar o que fazemos sem ganhar muito dinheiro… Agora, aquele empresário “podre de rico” que tenha tido sempre tudo o que queria com o dinheiro que ganhou, mas que nunca fez aquilo que realmente lhe dava prazer, vai, ao fim de algum tempo, olhar para trás e pensar “tenho este dinheiro todo, mas que fiz eu que realmente ambicionasse e desejasse?”.
Temos que ser felizes com o que fazemos na nossa vida mas, ao mesmo tempo, também sermos útil no que nos propomos fazer.
O “pó da estrada” pode ser algo insignificante, mas ele está lá na estrada, para que “os pés dos pobres” o pisem, ou seja, é útil para alguém;
A água que forma um rio pode ser algo de trivial para um ser humano, mas ela está lá para quando as lavadeiras precisam dela, escutando, talvez, a alegria destas últimas, ouvindo as suas conversas, como se nada de mais importante houvesse a fazer naquele momento;
O burro do moleiro pode ter uma vida, aos olhos de muitos, desgraçada, mas ele está lá para trabalhar para o moleiro, é útil para um ser humano que leva uma vida desgastante, e serve de companhia para alguém com uma vida solitária, pelo qual é estimado pelo dono.
Concluindo, por muito insignificante que seja a vida, ela é preciosa aos nossos olhos e, portanto, tem que ser vivida à nossa maneira, ao nosso gosto, de acordo com as nossas fantasias. Não nos podemos limitar a ver as estações passarem e não as sentir, não as viver, passar décadas com pena do que fazemos e com culpa interior de não termos feito a escolha que nós desejávamos, pois “tudo é possível, o impossível só demora mais tempo a realizar-se”.



João Nunes

Ao longe, ao luar


Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.



Fernando Pessoa


Escolhi este poema de Pessoa Ortónimo porque, apesar de ser um poema de apenas três estrofes, diz o essencial sobre o sentir com a imaginação de Pessoa, e a sua busca por aquilo que está além daquilo que imagina.
Na primeira estrofe encontramos o verso “Ao longe, ao luar,”, que nos dá uma noção de algo longínquo, alcançável na nossa imaginação, mas não na vivência (realidade). Pessoa caracteriza a vela como uma serena passagem, mas que apesar de tudo não sabe o que significa, contudo sente-se um pouco estranho quanto a isso. No terceiro e quarto versos, o Eu poético estabelece a tão importante ligação entre a imaginação (sonhos que tem) com a realidade, ou a falta dela (sonhar sem ver). A sua consciência leva-o a questionar-se, mas a realidade é que a passagem ocorre (“É a vela que passa”) e nada muda (“Na noite que fica”).

Gostei muito deste poema, o poema mostrou a forma como Pessoa sente com a imaginação o que é uma característica que aprecio. Também gosto bastante da estrutura simples, apesar da trabalhosa interpretação.



João Duarte nº10 12ºC

Pessoa?




Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…

Quando li este poema tinha cerca de 11 ou 12 anos. Jamais fazia a ideia que iria ouvir falar tanto do Sr. Fernando Pessoa. Para ser sincera, agora não gosto muito da sua poesia, porque tenho que a estudar (sou forçada). Mas este poema é uma excepção.
Quando o li, a primeira ideia que me veio a cabeça foi: o poeta tem a preocupação de mostrar, neste poema, a motivação de viver. Sendo eu uma pessoa apaixonada pela vida, este poema é um dos melhores que consegue exprimir o meu lema: ” Nós somos aqueles que desenham a vida tornando-a feliz”.
« (…) a minha vida (…) posso evitar que ela vá à falência.» Nesta citação (verso), o poeta diz-nos que somos nós que dominamos a vida. Portanto, quando estamos desanimados ou fartos da vida, porque algo nos correu mal, nós é que temos o dever de desviar ou enfrentar os obstáculos com um sorriso nos lábios, para crescermos e tornarmo-nos mais fortes para enfrentarmos mais obstáculos que virão.
Ao longo da nossa vida deparamo-nos com situações agradáveis e menos agradáveis, sujeitos a criticas e a elogios. Da mesma maneira que aceitamos um elogio devemos aceitar uma crítica, porque é da forma que evoluímos e corrigimos os nossos erros.
Aqui, a Felicidade está caracterizada na acção «Ser feliz é deixar de ser vitima (…) É atravessar desertos fora de si (…)» entre outras citações (versos, ideias) que o poeta refere. Todavia, para sermos felizes temos que partir em busca da felicidade, pois se estivermos sentados e de braços cruzados nunca iremos alcançar a felicidade.
Então, toca apanhar as «pedras no caminho» e encontrar a felicidade para «um dia (…) construir um castelo…»



Emília Oliveira

Dorme enquanto eu velo...



"Dorme enquanto eu velo..." é um poema de Fernando Pessoa (ortónimo), que foi publicado ainda em vida do poeta, na revista Athena, nº3, em Dezembro de 1924. A revista, fundada e dirigida por Pessoa, teve poucos números, cessando a sua publicação no ano seguinte, em Fevereiro.

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.



Porquê este poema?
Pois bem, antes de mais o que me chamou a atenção neste poema foi o seu começo, "Dorme enquanto eu velo...", que desde logo me sugeriu uma abordagem no contexto “amoroso”, se assim lhe quisermos chamar, pois para amor poder-se-ia enumerar um sem número de sinónimos. Uma vez que Pessoa era uma ser realmente excêntrico, interessou-me, desde logo, saber mais sobre o conteúdo deste poema, e mais que o poema em si, aquilo que Pessoa realmente sentia sobre o tema em si.
Este poema tem uma abordagem do amor platónico e, como é característico em Pessoa (ortónimo), a linguagem é simples, mas rica, acompanhando-se de uma falta geral de expressão de emotividade em favor de um racionalismo pensado e taciturno.
E agora passo a explicar porque me sugeriu, o primeiro verso do poema, que o tema do mesmo seria amor - pois bem, numa breve e simples explicação, “Dorme enquanto eu velo...” é uma ideia associada ao amor, onde há partilha total e entrega absoluta, como tal acontece, ou poderia acontecer, na ideia subjacente a este verso, onde a pessoa que vela, oferece o seu tempo e trabalho para dar rumo à “embarcação”, e aquele que dorme entrega ao que está a velar, a sua confiança para o(a) dirigir “a bom porto”.
De seguida concluí, pela análise do poema na íntegra, que se trata de um amor platónico, que numa definição corrente e actual sugere toda a relação afectuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de géneros diferentes, como num caso de amizade pura, entre duas pessoas. E para o demonstrar penso que quatro versos serão mais esclarecedores ao leitor do que qualquer explicação que pudesse desencantar algures a vaguear por entre os meus pensamentos:

Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.


Aqui estão eles, e como este é um tema já proveniente da antiguidade clássica, este é um tema com um certo toque de “requinte” com uma boa dose de simplicidade e encantamento adicionados por Pessoa.
E, por fim, e para concluir, o porquê deste poema e não um outro qualquer de Pessoa (ortónimo), que eu remato dizendo que outro não existe, até porque não vi além de três poemas de Pessoa (ortónimo), este foi o terceiro, e agradou-me profundamente, logo não tem de haver um porquê relativo, mas sim absoluto que já foi justificado com base na temática.



Bruno Guimarães

Quando é que o cativeiro


Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?

Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?

Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?

Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.



Fernando Pessoa



Este poema escolheu-me visto que os pensamentos nele presentes se relacionam comigo mesmo. Ao longo da minha adolescência, sempre tive a sensação de me sentir fechado, limitado a regras e regulamentos, esperando sempre poder ser mais e melhor no futuro. Pois!? Mas esse futuro é apenas uma imaginação, somos nós que o construímos dia-a-dia com os nossos actos e pensamentos.
Pessoa, no poema, sente-se preso, até um pouco revoltado, com a ideia de não conseguir atingir algo mais além. Eu, tal como Pessoa, sinto-me confuso, fazendo perguntas ao mundo, “Quando o serei?”, “Quando é que serei o que as outras pessoas querem que eu seja?”, será que estou pronto para me tornar em adulto e me desfazer dos tão importantes laços que tenho, quer com a minha família, quer com os meus amigos? A ideia de perder pessoas importantes deixa-me devastado, e se crescer implica perder, então não quero crescer.

Este poema fez-me pensar e ver que devemos lutar pelos nossos objectivos, e fazer o possível para os realizar.
NÃO “Perguntarei em vão”.


Carlos Silva nº6 12ºC

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Hoje saí muito cedo




Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer.

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.


Alberto Caeiro


Este poema escolheu-me no sentido em que há alturas em que a única solução é seguir o caminho do vento, na esperança que ele mude de rumo, deixar o vento bater nas costas, deixarmo-nos levar onde ele quer e aonde o pensamento não chega.
A falta de sentido de orientação do autor mostra, no meu entender, o quanto ele está desanimado com a sua vida, viaja sem destino, parte rumo à aventura, ao desconhecido, para deixar para trás os problemas e esquecer, na esperança que se liberte dessa prisão que era a sua vida.
O autor revela que quer continuar a seguir caminho do vento sem pensar, dando a ideia de liberdade, o autor espera que este caminho lhe traga a liberdade que sempre ansiou.
Mas há que recordar bem que o pessimista queixa-se do vento, o optimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.

Ricardo 12ºC

Para ser grande, sê inteiro


Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Ricardo Reis




Este poema escolheu-me porque se refere ao modo como eu penso que todos nós devemos encarar todas as coisas que nos vão surgindo ao longo da vida.
Como nos diz Ricardo Reis neste poema, “põe tudo o que és no mínimo que fazes”, quer isto dizer que devemos dar sempre o nosso melhor em tudo aquilo que fazemos, porque assim ficaremos satisfeitos com nós próprios e de consciência tranquila, pois temos a certeza de que fizemos tudo o que podíamos.
Também nos diz que não devemos excluir nada do que somos, que devemos ser “todo em cada coisa”, pois só assim poderemos ser grandes pessoas.
Se dermos sempre o nosso melhor, não excluindo nada do que somos, as outras pessoas reconhecerão o nosso verdadeiro valor e aí, brilharemos como a lua.



André Loureiro

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Há quase um ano não screvo



Há quase um ano não screvo.
Pesada, a meditação
Torna-me alguém que não devo
Interromper na atenção.

Tenho saudades de mim,
De quando, de alma alheada,
Eu era não ser assim,
E os versos vinham de nada.

Hoje penso quanto faço,
Screvo sabendo o que digo...
Para quem desce do espaço
Este crepúsculo antigo?


23/05/1932



Escolhi este poema porque… apesar de não ter a necessidade de escrever como Pessoa, quando escrevo nada escrevo por inspiração, tudo é pensado, meditado e, realmente, pesado. Não me provoca o mesmo desconforto que a Fernando Pessoa, pois ele sente como que um descontentamento constante, pelos objectivos inatingíveis. Está bem marcado na sua poesia, o passado, e sempre que este é confrontado com o presente… sente esse sentimento de não conseguir alcançar o que desejaria. Não é bem o mesmo sentimento, mas a falta de rebeldia no pensamento - é tudo muito ordeiro e não é o suficiente para satisfazer (?), por vezes.

Este poema escolheu-me porque… pela saudade, saudade dos momentos vividos, apenas vividos a cada segundo, como se fosse o último. Pessoa conta a sua frustração por desconhecer a pessoa em que se terá tornado, tornou-se numa pessoa diferente da que idealizava. Daí as saudades de um tempo em que tudo seria menos pensado... também as sinto.

Certamente partilho esta opinião com muitos: a vida seria muito mais empolgante, no passar dos dias, se não fosse tão pensada e planeada. Mas por outro lado… e entraríamos novamente no mesmo dilema, no impasse de Fernando Pessoa.

Vivamos um dia de cada vez.




Juliana

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Guia-me a Só a Razão

Guia-me a só a razão.
Não me deram mais guia.
Alumia-me em vão?
Só ela me alumia.

Tivesse quem criou
O mundo desejado
Que eu fosse outro que sou,
Ter-me-ia outro criado.

Deu-me olhos para ver.
Olho, vejo, acredito.
Como ousarei dizer:
«Cego, fora eu bendito»?

Como olhar, a razão
Deus me deu, para ver
Para além da visão —
Olhar de conhecer.

Se ver é enganar-me,
Pensar um descaminho,
Não sei. Deus os quis dar-me
Por verdade e caminho.

Fernando Pessoa



Este poema escolheu-me porque apela a quem o lê a fazer o que realmente gosta e não a fazê-lo porque o grupo em que estamos inseridos quer que o façamos. Apela-nos a seguir apenas os nossos princípios. Também apela para aquilo a que chamo ir "contra a corrente". Por vezes, sabemos que certas pessoas têm atitudes erradas e não temos a coragem de as parar e, pior do que isso, deixamo-nos ir na “onda”. Acho que toda a gente já experimentou como é difícil nadar contra a corrente, onde tudo nos puxa para trás, mas nós queremos seguir o nosso caminho.
Para salientar esta ideia, eu vou ainda buscar uns versos do poema “Cântico Negro”, de José Régio:”Vem por aqui(…) Não, não vou por ai! Só vou para onde/ me levam os meus próprios passos…”
No entanto, acho que Pessoa exagera. Portanto, vou já avançar para a última estrofe.
Muitas vezes, na nossa vida, temos que tomar opções e nem sempre escolhemos a mais correcta, porque era a mais fácil, ou porque a nossa teimosia nos obrigou a fazê-lo. Há ainda muitas outras razões pelas quais nós não escolhemos o caminho certo. Diz Pessoa:”Se ver é enganar-me/ Pensar um descaminho” se calhar o melhor seria não ver. Também diz a sabedoria popular, que não tão radical:”Errar é humano”. Mas eu digo: -Humano é, aprender com os erros!


Espero que gostem da minha análise, admito que não sou muito bom a exprimir aquilo que sinto, mas esforcei-me…

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O tempo de Pessoa




Há um tempo em que é preciso

Abandonar as roupas usadas

- Que já têm a forma do nosso corpo -

E esquecer os nossos caminhos

Que nos levam sempre aos mesmos lugares…

É tempo da travessia e,

Se não ousarmos fazê-la,

Teremos ficado para sempre

À margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Este poema escolheu-me pois fala de mudança em todas as vertentes da nossa vida. Temos que abandonar o conforto das nossas casas, dos nossos amigos, da nossa família e daquilo que conhecemos para voltar a nos descobrirmos e reinventarmo-nos.

A mudança é boa pois ajuda-nos e lidarmos melhor com o mundo que nos rodeia, que cada vez mais se torna um lugar escuro e perigoso. É boa, pois sem ela ficaríamos estúpidos, monótonos e todos os dias, seriam dias chão. Provavelmente, entraríamos em depressão e depois, mais tarde ficaríamos catatonicamente malucos, pois nada é novo e já pouco nos surpreenderia.

Há que mudar os nossos caminhos, se vamos sempre para a direita há que ir para a esquerda; vestir roupas novas, diferentes, se vestimos preto, temos que nos enfeitar de laranja!! É tempo de desafiar tudo em que acreditamos, é tempo de irmos mais além e procurar, no baú dos nossos pais, os valores dos anos 60 e 70, onde se lutava quando algo não estava bem e deixar esta apatia perante o Mundo de lado!! Se não fizermos nada disto vamos viver numa vida de “Porquês”, de “Ses” e de “Como teria sido…”.

Eu falo por experiência própria, quando digo estas coisas, pois é muito triste e frustrante viver -se assim e quando comecei a ir para a esquerda em vez da direita, descobri novos mundos e senti-me nova, como uma criança quando vê algo novo!!

Uma das teorias apresentadas para a extinção ou desaparecimento do povo Maia relata que as mães maias eram tão protectoras que não deixavam os seus filhos brincar. Quando estes cresceram e desempenhavam a função de guerreiros, foram dizimados por não saberem fazer nada…

Por isso, enquanto estão a ler isto (ou não), reflictam sobre as vossas vidas e vejam o que podem mudar!! Até os adolescente podem ser bastante monótonos e previsíveis…

E quero também deixar um conselho: A mudança é boa, por isso, pratiquem-na o maior número de vezes possíveis.

Ana Monteiro

Nº1, 12º C


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Não sei quantas almas tenho









Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.


Continuamente me estranho.


Nunca me vi nem achei.


De tanto ser, só tenho alma.


Quem tem alma não tem calma.


Quem vê é só o que vê,


Quem sente não é quem é,





Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.


Cada meu sonho ou desejo


É do que nasce e não meu.


Sou minha própria paisagem,


Assisto à minha passagem,


Diverso, móbil e só,


Não sei sentir-me onde estou.





Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.


O que segue não prevendo,


O que passou a esquecer.


Noto à margem do que li


O que julguei que senti.


Releio e digo: Fui eu?

Deus sabe, porque o escreveu.




Fernando Pessoa








Este poema escolheu-me pois estou numa fase de conhecimento e transição. A fase de conhecimento advém do facto de eu estar numa tentativa de me conhecer e tentar perceber aquilo que quero para o meu futuro, do que sou ou não capaz, do que quero mudar em mim e aprender a aceitar-me como sou: pessoa que comete erros e que tem de aprender com eles. A transição vem de eu já estar praticamente a entrar na idade adulta e ter que ir cortando o “cordão umbilical”, que por estranho que pareça, foi crescendo, ou´, se quiserem, ficando mais forte, nos últimos anos; para mim, esta fase está a ser um pouco complicada e, por isso, tenho muitas coisas a enfrentar.



Um dos outros aspectos que me chamou a atenção neste poema é o do poeta não saber “quantas almas” tem e mudar a cada momento, algo que também se passa comigo, pois eu dou comigo a pensar na variedade de “coisas” de que eu gosto e tanto sou a favor deste ou outro assunto, como também de repente, já sou contra. Quando Pessoa diz “Nunca me vi, nem achei”, penso que isto toca a muitas adolescentes ou jovens adultos, pois, como eu disse anteriormente, estão a descobrir-se… E, ao longo dessa descoberta, acho que acabamos por nos perder antes de nos termos encontrado, pois começamos a ser aquilo que os outros querem que eu seja e não aquilo que eu quero.



Não sei sentir-me onde estou.\\ Por isso, alheio, vou lendo\Como páginas, meu ser”: eu consigo identificar-me com esta sensação - sentirmo-nos como se não nos integrássemos no nosso meio, como se vivêssemos no nosso mundo, alheios ao que nos rodeia.



Ninguém consegue prever o que vai acontecer no futuro e todos sabemos que temos que esquecer o passado, ou a nossa vida não anda para a frente. Eu tento concentrar-me no presente imediato, mas nem sempre é fácil.





Assim, termino esta pequena análise, dizendo que me custou um pouco fazer este trabalho pois estou numa nova fase da minha vida e procurar, ou estudar, Fernando Pessoa corta o gozo a tudo, pois ele é muito deprimente…















Ana Patrícia, 12ºC

domingo, 4 de outubro de 2009

6 am

Agora acordas, meu coração…

Escolhes a hora de todos dormirem,

Para que não te vejam

Só e Aflito,

no desejo de cuspires

Todo o teu sangue contra mim.


Mas, ó meu coração,

que te adianta isso da fúria,

se toda a ânsia jura

ser apenas rubra água?!


Repousa guerreiro cansado…


Já passou o tempo

deste meu corpo

onde ainda latejas

morto

Acreditar em ti.

Linhas Corridas

*
O quarto está demasiado arrumado para que se deflagre o teu incêndio.
É preciso virar a cama de pernas para o ar e manchar as paredes com sujidade escatológica, sem limpeza de retorno .
Se não te pendurares de cabeça para baixo, has-de nunca saber o maravilhoso de passeares com ela no todo da tua decadência corporal.
Vira-te do avesso e vê por dentro, do lado de fora.
Sentes-te Deus agora?

*
Se “o outro” é um reflexo de nós mesmos, tens só de juntar todos os outros para criares o teu espelho de carne.

Umbigo Interior


Se descarrilassem todos os comboios

em direcção às goelas do Abismo;

Ou vos caísse uma bomba em cima,

mas uma por cada cabeça

não haja resistência

há que ter a certeza;

Se colidissem os hemisférios cósmicos,

num aglutinar de divina aniquilação,

E vos esfarelasse todos,

E vos calasse de vez,

Para que, enfim,

a todos calhasse um pouco mais de sabedoria.

Mas nada descarrila, nada cai, nada colide como deve ser – que é com o brio de um trabalho acabado.

Passeiam-se como baratas de quitina pétrea…

Era vê-las esmagadas contra o chão e contra o tecto ou contra outra coisa qualquer, desde que bem esmagadas e suplicando a sua minúscula vida de insectos.


É preciso explodir de Novo com tudo o que é velho e com tudo o que é novo mas sonoro ou argumentativo ou pensante,

E com a mesma violência da criação universal.


Sabeis

Sabeis bem isso,

sempre o soubeste desde o começo do Ínicio

Mas o umbigo interior engole-vos

num medo exclusivo da vossa própria morte:

- Que me salve sempre Senhor! Ámen


Se não acreditais na fertilidade da auto-destruição,

não mereceis contemplar o pó das estrelas nocturnas,

nem a frescura matutina da água

ou os rostos mortais das vossas Mães.


Sois apenas dignos de esmagamento - fissural e leproso.


É o que todos mereceis,

Todos excepto “eu”.