segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O que há em mim é sobretudo cansaço...

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.


A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.


Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…


E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…

Álvaro de Campos





Não há dúvida que depois de uma tão intensa e basta leitura de maravilhosos poemas deste tão extraordinário homem que foi Fernando Pessoa e ter que optar por apenas um, acabei por escolher este tão modesto mas fantástico poema.
Embora tenha sido uma escolha complicada considero que foi uma excelente opção visto que me reconheço nestas palavras que acarretam tantos sentimentos, desânimo e cansaço.
Através deste poema Álvaro de Campos transmite-nos um sentimento de plena desmotivação, de puro cansaço, apenas isso, cansaço.
Campo fala-nos de realidades que todos pretendem alcançar, que resultam em cansaço de sentimento inúteis, de paixões violentas e intensas por um suposto alguém, tudo isto o agoniza num cansaço interior extremo.
Confronta-nos ainda dizendo que existem sem dúvida pessoas que conseguem suportar este cansaço, mas talvez não o sintam na realidade, diz ainda que existe quem ame o infinito, quem consiga desejar o inalcançável e ainda quem não queira nada.
Para essas pessoas viverem a vida bastar-lhes-á unicamente o meio entre o tudo e o nada.
Para Campos tratam-se todos de idealistas.
Álvaro de Campos não se encaixava em nenhum desses ideais, pois conseguia alcançar sempre algo mais remoto, amando o infinitamente o infinito, desejando o impossivelmente possível, e querendo tudo ou mais se possível.
Todos estes sentimentos tornar-se-ão numa felicidade inculta, ou seja, no seu cansaço, que ele caracteriza como supremíssimo, íssimo, íssimo cansaço.
Álvaro de Campos está cansado por não atingir o que para esses outros é tão fácil talvez porque os outros não contestam, não são audazes, mesmo quando não desejam nada.
Campos possuía uma enorme intranquilidade, que ele defendia como sendo cansaço, mas que no fundo não passa da sua não aceitanção do seu fracasso no mundo.
Invejava os outros para quem esse meio basta-lhes, vivendo e morrendo sem contestarem a vida, aceitando e vivendo apenas com esse meio entre o tudo e o nada.
No meu entender, é realmente assim que a vida nos deixa, cansados, mesmo para aqueles que o meio entre o tudo e o nada lhes basta o cansaço acabar por os corroer e ninguém consegue viver toda a vida apenas no meio e desse meio, chegará um dia em que se diz basta, e a soluçao é tentar alcançar o topo, o certo é que são poucos os que o conquistam, e ai senti mo-nos inúteis .
Então aí, o cansaço volta a nos corroer… a corroer por dentro, tirando-nos tudo, mesmo a quem nunca desejou nada.



Paula Fernandes 12º F


[texto por editar pela professora]

2 comentários:

Paulinha disse...

AGORA SIM, POSSO AFIRMAR COM TODAS AS FORÇAS QUE ME RESTAM (DEVO DIZER QUE NÃO SÃO MUITAS) QUE ESTOU ----> CANSADA!
Ninguém esta quase até as 3h da manha a fazer o trabalho para português xD
Foram só 2h e pouquito de atraso, coisa pouca…
Por isso professora, toca a valorizar este extraordinário esforço, ah :D

Cláudia Amorim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.