domingo, 17 de junho de 2007

“Lisboa perto e longe”


Eu escolhi este poema, principalmente, pelo autor. Tinha conhecimento de que Manuel Alegre era poeta, mas nunca tinha lido nada sobre ele, e a primeira vez que li, fiquei espantado com toda a genialidade do poeta.
Sobre este poema, achei-o muito bom, pelo tipo de construção que o poeta faz, as rimas a forma como ele consegue falar de um assunto tão extenso, em tão poucos versos. Uma das razões, porque também gostei deste poema, é do conteúdo. Ele é um verdadeiro poeta, que não anda sempre a proferir poemas lamechas e repetitivos de amor, mas antes fala de coisas que nenhum outro teve coragem de o fazer. É um aspecto que me agrada, o conteúdo do poema, pois fala da importante revolução, ou neste caso, anos de ditadura, tema que interessa e suscita interesse, dado que nós ao lermos o poema estamos a analisar os sentimentos, o que o poeta quis transmitir, e neste caso ele transmite algo que eu não vivi, daí o grande interesse e apreciação por este poema devido ao tema de que fala.




Lisboa perto e longe

Lisboa chora dentro de Lisboa
Lisboa tem palácios sentinelas.
E fecham-se janelas quando voa
nas praças de Lisboa - branca e rota
a blusa de seu povo - essa gaivota.


Lisboa tem casernas catedrais
museus cadeias donos muito velhos
palavras de joelhos tribunais.
Parada sobre o cais olhando as águas
Lisboa é triste assim cheia de mágoas.


Lisboa tem o sol crucificado
nas armas que em Lisboa estão voltadas
contra as mãos desarmadas - povo armado
de vento revoltado violas astros
- meu povo que ninguém verá de rastos.


Lisboa tem o Tejo tem veleiros
e dentro das prisões tem velas rios
dentro das mãos navios prisioneiros
ai olhos marinheiros - mar aberto
- com Lisboa tão longe em Lisboa tão perto.



Lisboa é uma palavra dolorosa
Lisboa são seis letras proibidas
seis gaivotas feridas rosa a rosa
Lisboa a desditosa desfolhada
palavra por palavra espada a espada.


Lisboa tem um cravo em cada mão
tem camisas que abril desaboto
amas em maio Lisboa é uma canção
onde há versos que são cravos vermelhos
Lisboa que ninguem verá de joelhos.


Lisboa a desditosa a violada
a exilada dentro de Lisboa.
E há um braço que voa há uma espada.
E há uma madrugada azul e triste
Lisboa que não morre e que resiste.


Manuel Alegre



José Pedro Ramião, 10º C

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

:D Perspectiva interessante a tua! ehehe Então gostas de Manuel Alegre porque não é lamechas! :D De facto, são várias, e muito pessoais, as razões que nos levam a preferir este àquele poeta. Acima de tudo, fico feliz por teres encontrado um poeta "à tua medida"! Boa escolha!